domingo, 27 de junho de 2010

Adultos adoram fazer perguntas estúpidas para crianças para seu próprio entretenimento! Uma dessas perguntas é a famosa: “O que você quer ser quando crescer?”. Nós sabemos que a resposta será algo improvável – como astronauta ou estrela de cinema – ou até mesmo algo engraçado – como cortador de grama ou carteiro – e, então, usamos nossos adoráveis pequenos, nos aproveitando de sua inocência e limitações para darmos algumas risadas. Que feio!

Crianças nos dão essas respostas engraçadinhas e improváveis porque não compreendem ideologicamente o sentido de “futuro”. “O que você quer ser quando crescer?” é uma idéia tão abstrata para uma criança quanto a origem do universo ou a natureza do tempo e espaço é para nós adultos. Podemos ter nossas idéias particulares sobre esses assuntos, mas elas não passam de mera especulação.

Em algum ponto entre nossa infância e nossa maturidade, começamos a perceber que precisamos de um posicionamento pessoal sobre o futuro para não sermos considerados “esquisitos” ou “inadequados”. Começamos, então, a desenhar o futuro que desejamos, moldando-o de acordo com as expectativas externas sobre nós mesmos. Daí esquecemos que queríamos ser astronautas e começamos a dizer que queremos ser médicos, advogados, engenheiros ou arquitetos. Qualquer indecisão nessa área gera ansiedade e um senso de inadequação. Se não soubermos o que queremos ser, corremos o risco de não sermos nada. E aí, como ficamos?

Adolescentes entre 15 e 18 anos relatam que, dentre as diversas causas de sua inquietação, revolta e ansiedade, uma das maiores é a insegurança quanto ao futuro. E se eu escolher o curso superior errado? E se eu decidir não fazer curso superior? E se eu casar com a pessoa errada? E se eu for um fracasso na vida?

Apegamo-nos, então, aos nossos planos para o futuro como uma forma de reduzir a ansiedade e a inquietação (o senso de que não sabemos realmente o que o amanhã nos reserva). Quando temos planos, sentimos que, de certa forma, estamos no controle.

Esse controle, no entanto, é uma ilusão. Nós podemos ter sonhos, metas, planos e conseguir concretizá-los, mas se a razão por trás desses objetivos for uma necessidade de controle, não conseguiremos encontrar satisfação ao cruzar a linha de chegada. Por quê? Porque o motivo jamais foi vencer, mas, sim, controlar. Ao chegar onde queríamos, a sensação de insegurança e perda de controle começa a surgir novamente e novos planos devem ser feitos.

A criança diz que quer ser astronauta “quando crescer”, mas, na verdade, ela quer ser astronauta agora. Dentre todas as previsões que podemos fazer na vida, aquela que corremos o maior risco de errar feio é a de como seremos no futuro – em termos de vontades, preferências e necessidades. Nós somos como crianças quando falamos sobre nossos desejos futuros: o que nós dizemos que queremos para o futuro é o que queremos, na verdade, naquele momento. Nós fazemos suposições sobre como estaremos amanhã e quais serão nossas preferências, mas essas opiniões são apenas especulações vazias. Não raro, maldizemos a nós mesmos no passado pelas escolhas que fizemos porque não compreendemos como poderíamos ser daquela forma e ter feito tais escolhas. A pessoa que somos hoje é um estranho para a pessoa que fomos ao passado e também para a pessoa que seremos no futuro.

Se não podemos prever se no futuro vamos gostar de ter realizado os objetivos que planejamos no presente, o que devemos fazer, então? Devemos simplesmente não planejar e viver à deriva?

Vamos discutir sobre esse assunto mais adiante. Por enquanto, reflita sobre como você lida com as suas expectativas e conquistas. Nem todos se enquadram na condição explicada neste artigo. Há diversos outros mecanismos que utilizamos para lidar com nossas expectativas com relação ao futuro. Conhecer seus mecanismos pessoais é um grande passo para começar a lidar mais pró-ativamente com a própria vida.

E você quer ser o que, quando amadurecer?

Porque crescer você já cresceu, rs!

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